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Avalanche de números: a quantas andam os Objetivos do Milênio

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milenio-objetivosA dois anos do fim do prazo estabelecido para que os países-membros da ONU alcancem os 8 Objetivos do Milênio acordados em 2000, boa parte das metas sociais foram atingidas ou estão bem encaminhadas (ao menos na média global, mas com grandes disparidades regionais). Entretanto, o cumprimento das metas estritamente ambientais deixa muito a desejar. As Nações Unidas lançaram hoje um relatório que faz um balanço dos progressos obtidos e dos desafios que persistem com base nos dados de mais de 27 agências internacionais. Versões em inglês, espanhol e francês podem ser obtidas online. Uma das áreas com ganhos mais significativos foi a da saúde. Entre 2000 e 2010:

  • as mortes por malária caíram mais de 25%, e cerca de 1,1 milhão de mortes foram evitadas;
  • os óbitos por tuberculose também caíram dramaticamente e a meta de redução de 50% em relação aos números de 1990 parece factível;
  • o número de casos de infecção por HIV também caiu consideravelmente e 8 milhões de portadores do vírus em países em desenvolvimento têm acesso à terapia antirretroviral (o relatório indica que será possível universalizar esse acesso até 2015);
  • A taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos despencou 41% – de 87 mortes por mil nascidos vivos em 1990 para 51 em 2011 (com maior concentração no primeiro mês de vida), com uma redução total de 14 mil mortes diárias. A má notícia é que uma em cada seis crianças com menos de cinco anos tem peso abaixo do recomendado e uma em cada quatro tem o seu desenvolvimento atrasado; e outras 7% estão acima do peso;
  • A taxa de mortalidade materna também caiu drasticamente: 47% nas últimas duas décadas, de 400 para 210 mortes por 100 mil partos (de nascidos vivos) entre 1990 e 2010. Mas o relatório avalia que não será fácil cumprir a meta de redução dos números de 1990 em três quartos.

Quanto à pobreza:

  • A meta global de reduzir a pobreza extrema à metade foi atingida cinco anos antes do prazo. Nos países em desenvolvimento, a porcentagem dos que vivem com menos de US$ 1,25 por dia caiu de 47% do conjunto da população, em 1990, para 22% em 2010. Cerca de 700 milhões de pessoas deixaram a pobreza em 20 anos. A China liderou o processo – a porcentagem dos chineses que vivem na miséria passou de 60% em 1990 para 16% em 2005 e 12% em 2010. A África Subsaariana e o Sul da Ásia continuam sendo, previsivelmente, as regiões mais miseráveis do planeta.
Gráfico que mostra bem as disparidades regionais: proporção da população que vive com menos de US$ 1,25 por dia (1990, 2000 e 2010). De cima para baixo: África Subsaariana, Sul da Ásia, Sul da Ásia (excluída a Índia), Sudeste Asiático, Leste da Ásia (dados exclusivamente da China), América Latina e Caribe, Oeste da Ásia e Norte da África.

Gráfico que mostra bem as disparidades regionais: proporção da população que vive com menos de US$ 1,25 por dia (1990, 2000 e 2010). De cima para baixo: África Subsaariana, Sul da Ásia, Sul da Ásia (excluída a Índia), Sudeste Asiático, Leste da Ásia (dados exclusivamente da China), América Latina e Caribe, Oeste da Ásia e Norte da África.

  • A meta de reduzir à metade a porcentagem dos que têm fome também poderá ser alcançada dentro do prazo, segundo o relatório. A proporção de desnutridos caiu de 23,2% do conjunto da população em 1990-1992 para 14,9% em 2010-2012. Mas uma em cada oito pessoas ainda é cronicamente desnutrida.
População desnutrida em países em desenvolvimento, em milhões de indivíduos e porcentagem do conjunto da população.

População desnutrida em países em desenvolvimento, em milhões de indivíduos e porcentagem do conjunto da população.

  • O número de habitantes de favelas e outras habitações de baixa qualidade está caindo. Entre 2000 e 2010, mais de 200 milhões de pessoas nessas comunidades ganharam “um melhor acesso a fontes de água, saneamento, casas de qualidade ou mais espaço para viver” (uma declaração um tanto vaga, a meu ver), o dobro da meta dos Objetivos do Milênio;
  • A crise financeira dos últimos anos teria incrementado o número global de desempregados em 67 milhões e o número de desalojados ou exilados por razões políticas ou algum tipo de perseguição é o maior em 18 anos (cerca de 45,1 milhões de pessoas no final do ano passado).
  • E boas notícias na educação: entre 2000 e 2011, o número de crianças fora da escola primária caiu quase pela metade – de 102 milhões para 57 milhões. O problema é que os avanços desse indicador começaram a perder força e é improvável que a meta de universalizar a educação até 2015 seja cumprida.

No meio ambiente, informações geralmente pessimistas, com algum alento aqui e ali. Nada que surpreenda o leitor de Página 22. As emissões globais de dióxido de carbono continuam a aumentar – hoje elas são mais de 46% superiores ao seu nível em 1990. A cobertura florestal desaparece em ritmo alarmante e a sobrepesca está diminuindo a captura de espécies marinhas. A extensão de áreas protegidas é crescente, mas a biodiversidade enfrenta uma onda crescente de extinções, com declínio de populações e sua distribuição. Entretanto:

  • As metas de acesso à água de qualidade foram cumpridas bem antes do prazo final. Nos últimos 21 anos, 2,1 bilhões ganharam acesso à água potável, mas 11% da população global ainda não tem esse direito na prática;
  • De 1990 a 2011, 1,9 bilhão de pessoas ganharam acesso a instalações sanitárias (latrina ou privada com descarga) ou outra melhoria nas instalações de saneamento. Entretanto, 2,5 bilhões ainda têm problemas sérios de acesso ao saneamento e é possível que as metas para esse indicador não sejam cumpridas até 2015.

Naturalmente esses indicadores, como todas as médias, escondem imensas disparidades regionais, entre diferentes grupos sociais ou entre homens e mulheres. Alguns exemplos:

  • Em 2011, apenas 53% dos nascimentos em áreas rurais foram assistidos por profissionais de saúde qualificados, em contraste com 84% nas áreas urbanas;
  • Cerca de 83% dos que não têm acesso à água potável vivem em comunidades rurais.

A ONU também indicou que os países ricos têm reduzido progressivamente a ajuda dada aos países em desenvolvimento para que atinjam os Objetivos do Milênio. Em 2012, esses recursos ficaram na casa de US$ 126 bilhões, 4% a menos em termos reais do que 2011, que, por sua vez, foi 2% abaixo dos níveis de 2010. Em compensação, os países em desenvolvimento estariam se beneficiando da redução dos encargos de suas dívidas e de um melhor acesso ao comércio internacional.


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